Entre Fronteiras e Destinos


No dia 17 de março de 2020, às 4 da manhã, cheguei ao Brasil muito assustada. Não falava uma palavra de português, não conhecia ninguém e tinha passado duas fronteiras em poucas horas. Estava tentando atravessar o país para chegar à Colômbia, no início de uma pandemia que ninguém previa. Esse dia marcou um antes e um depois em minha vida, pois o que inicialmente seria uma aventura de várias semanas para descansar e reencontrar velhos amigos da Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile (pais ao qual não consegui chegar), transformou-se em um processo de migração. De certo modo, essa experiência também me fez refletir sobre o meu próprio caminho e o que me colocou em um novo começo, como estudante de doutorado.

Sem saber e sem planejar, me tornei uma migrante naquele dia – presa pela pandemia por mais de um ano -. E foi nesse momento que comecei a compreender, até certo ponto, as dificuldades que as pessoas enfrentam quando são obrigadas a se deslocar, como deslocados, refugiados, migrantes forçados, e que precisam confrontar diariamente. O medo do desconhecido, a incerteza sobre o futuro, a solidão, a angústia de recomeçar do zero, as dificuldades em entender a burocracia e a documentação necessária, as dúvidas ao experimentar uma nova culinária, descobrir os lugares cotidianos como o mercado, o transporte, o médico ou simplesmente conseguir se comunicar com alguém sem conhecer a língua. Nesse processo, uma infinidade de emoções, sentimentos e tristezas que podem ser vivenciados.

De forma alguma pretendo equiparar minha experiência à história de milhares de pessoas que precisam deixar seus territórios porque seus direitos foram violados e, na maioria das vezes, com menos opções do que eu tinha. No entanto, para mim, esses meses representaram uma nova maneira de enxergar os imigrantes, de admirar sua coragem, capacidade de adaptação e criatividade, além de buscar compreender melhor as questões relacionadas ao acolhimento de populações migrantes e, em última instância, compreender o deslocamento, a construção da paz e refletir sobre como minha paixão pela arte e cultura pode contribuir para melhorar a situação de milhares de pessoas em situações semelhantes.